ida na Suíça
Ela é morena, muito baixinha, faz as sobrancelhas bem arqueadas com um lápis preto e cuida com esmero das longuíssimas unhas decoradas com glitter. Veio pra Suíça há vinte e cinco anos, fala pouco o alemão mas se vira melhor do que eu. Saiu do interior do Pará, onde já praticava a profissão mais antiga do mundo, em busca de marido. É divertida, engraçada, amorosa e por isso é sempre um prazer encontrá-la pelo caminho.
– Oi, meniiiiiiiiina! Vamos fazer comprinhas, é? Comprinhas são a melhor coisa que tem fora os filhos, né?
– É! Já fiz e já estou voltando pra casa.
– Vai filha, vai fazer comidinha pro seu marido.
Eu fui. Segui para um lado, ela para outro. Dez segundo depois ela gritou: Aaaaaaaaiiiiii!
– O que foi?
– Menina! Tu cortou o cabelo, é?
– Já faz um ano, você não tinha visto?
– Eu não! De frente nem parece
– É que já cresceu, na frente tá compridinho.
– Pois então deixe atrás feito na frente, deixa esse cabelo crescer que é isso que eles gostam na gente, as brasileiras.
– Ah! Não tenho mais saco nem idade pra cuidar de cabelão. A cara tá ficando velha, não combina mais.
– Qué iiiiiiisso? Homem não liga pra cara não! Gosta é de ver a mulher de costas com o cabelão tocando na bunda, vai por mim, deixa seu cabelo crescer bem comprido de novo.
Ela piscou e foi fazer comprinhas.
Ela diz que sabe
29 AprLivro Só o pó
5 AugA partir de 08/08 estarei direto no Facebook com meu miniromance Só o pó. Como numa novela, capítulos serão publicados diariamente. Cada personagem ganhou um álbum de fotos. Eles também vão interagir postando músicas e trechos de filmes.
Brasileiros na Art Basel
7 JunComeça semana que vem, dia 14, a maior feira de arte do mundo, a Art Basel. Este ano, a galeria A Gentil Carioca estará entre as vinte galerias (foram mais de 200 concorrendo) do mundo todo que apresentarão projetos especiais. A Gentil, dirigida pelos também artistas Ernesto Neto, Laura Lima e Marcio Botner faz a curadoria dos projetos dos artistas José Bento, Lourival Cuquinha e Rodrigo Torres.
Die weltweit grösste Kunstmesse, die Art Basel beginnt kommende Woche am 14. Juni in Basel. Dieses Jahr wird auch die Galerie “A Gentil Carioca” unter den 20 Galerien sein, welche Spezialprojekte präsentieren werden (es gab über 200 Anmeldungen aus der ganzen Welt hierfür). Die “Gentil”, geleitet durch Ernesto Neto, Laura Lima und Mario Botner (selbst auch Künstler), ist Kurator der Kunst-Projekte von José Bento, Lourival Cuquinha und Rodrigo Torres.
Conheça um pouco do trabalho de cada um:
Seht euch doch die Arbeit der drei Künstler an:
Rodrigo Torres (artista do Rio de Janeiro, nascido em 1981):
Lourival Cuquinha (de Olinda, 1975):
José Bento (de Salvador mas vive e trabalha em Belo Horizonte, 1962):
Art Basel : veja AQUI os horários e como chegar
de 14 a 17 de junho, ingressos de 40 a 95 francos, compre AQUI
Art Basel: hier die Öffnungszeiten und Hinfahrtswege: vom 14.-17.6., Einzeleintritt 40 , Dauerkarte 95 Franken. Link für Ticketkauf: HIER
Música nova brasileira
12 MayEsse post é principalmente para os suíços…Um pouquinho da música “jovem” brasileira:
A fofíssima Clarice Falcão e suas letras ótimas:
Die hübsche Clarice Falcão mit ihren tollen Texten:
O talentoso (e lindo) Criolo:
Der talentierte (und schöne) Criolo:
O projeto Agridoce da cantora Pitty:
Das Projekt Agridoce der Sängerin Pitty:
A musa do Pará, a incrível Gaby Amarantos:
Die Muse des Staates Pará, die unglaubliche Gaby Amarantos:
Estrangeiro
27 MarA vizinha morreu. Antes do Natal começou a passar mal. Com mais de noventa anos, todo mundo sabia que quando ela tivesse uma doença séria, dificilmente escaparia. Pegou uma pneumonia no inverno. Ficou dias no hospital e menos de um mês sendo cuidada feito bebê numa casa para idosos, voltou para o hospital e o coração fraquinho não aguentou. Morreu.
De abril a outubro era só sair na rua para encontrar a Senhora. Cuidava com paixão do jardim. As roseiras, enormes, eram seus xodós. Parar para conversar com a Senhora significava tempo. À vezes muito tempo. A Senhora desandava a falar e não parava mais. Nos últimos tempos, reclamava da saúde. Estava difícil para respirar, as pernas doíam, o coração palpitava de um jeito estranho. Mesmo assim ela ainda plantava, regava, colhia, ía e voltava do supermercado carregando as compras sozinha. Não tinha filhos, nem netos. Amava mais que tudo, talvez bem mais que o jardim, a menina portuguesa que passava as tardes no jardim lhe fazendo companhia.
A Senhora adorava as crianças da vizinhança. Falava com todas com carinho, perguntava sobre a escola, o que elas gostavam de fazer, do que elas brincavam. Oferecia flores às mães. Difícil passar pela casa da Senhora sem levar umas tulipas, um buquezinho sei lá do quê, umas rosas enormes cor de rosa.
Hoje passando pela casa da Senhora senti um aperto no peito. Doeu olhar aquele jardim florescendo e não ver a Senhora sorridente com suas costas curvadas e seus vestidinhos elegantes, já bastante puídos, exibindo com orgulho as primeiras flores da primavera. Mas mais ainda, doeu pensar que não estou perto da minha avó enquanto ainda lhe resta um pouco de memória não engolida pelo Alzheimer. Sabe se lá quanto tempo ainda ela tem com lucidez.
Olhar o jardim sem a Senhora foi também a contestação de que eu não estava perto do meu pai quando o carro dele deu perda total. Nem quando ele teve um derrame. Nem quando ficou dias no hospital e quase morreu. Também não estava perto quando minha mãe começou a envelhecer. Não estava perto quando nasceu a filha da amiga, nem quando a filha da outra amiga ficou doente, nem quando os melhores amigos de tantos anos precisaram. E também não estava perto quando os outros comemoraram qualquer coisa. Não dividi nenhuma alegria, não abracei, não fiquei junto a não ser por alguns dias do ano.
Morar fora deve ser assim para quase todo mundo e por isso que no fundo, todo mundo um dia sonha em voltar a terra natal. Não conheço um brasileiro que não sonhe com o dia em que possa morar metade do ano Brasil, de preferência no inverno europeu; e metade do ano na Europa.
Por mais que se forme uma nova família, novos amigos; deixa-se uma vida e todo mundo que fazia parte dela, para trás. As lembranças começam a se parecer com um filme, às vezes tudo muito nítido, às vezes muito embaçado. Assim como a vida no presente. Mais fácil chorar pela Senhora do que pela avó. Por que daí ficaria difícil demais.
A Senhora das rosas *
Die Nachbarin ist gestorben. Vor den Weihnachten ging es ihr schlecht. Sie war über 90 Jahre alt und alle wussten, dass es schwierig werden würde bei der nächsten schwereren Krankheit. Sie hatte eine Lungenentzündung im Winter und lag für Tage im Spital. Danach war sie über längere Zeit in einem Altersheim auf fremde Hilfe angewiesen, kehrte wieder zurück ins Spital und dann versagte ihr schwach gewordenes Herz. Sie starb.
Von April bis hin zum Oktober musste man nur auf die Strasse und schon traf man die Senhora. Mit Liebe pflegte sie ihren Garten. Die grossen prächtigen Rosensträucher waren ihr Stolz. Am Haus der Senhora anzuhalten bedeutete, dass man Zeit übrig haben musste. Manchmal viel Zeit sogar. Die Senhora begann das Gespräch und hörte nicht mehr auf zu reden. In der letzten Zeit klagte sie des öfter über Schmerzen und Krankheiten. Es fiel ihr immer schwerer zu atmen, die Beine schmerzten, das Herz klopfte ab und zu seltsam. Dennoch pflanzte sie rege, wässerte fleissig und pfückte, sie ging auch noch in die Läden und trug die Einkäufe alleine nach Hause. Sie hatte weder Enkel noch Kinder. Mehr als alles aber liebte sie, wohl mehr als ihren Garten, ein portugiesisches Mädchen. Lange wohnte es im oberen Stock des Hauses und später, als es weggezogen war, kam sie öfters an den Nachmittagen vorbei und leistete der Senhora im Garten Gesellschaft.
Die Senhora liebte die Kinder in der Nachbarschaft. Sie sprach mit allen liebevoll, fragte nach wie es ging in der Schule, was sie gerne machten, was sie so spielten. Sie schenkte den Müttern gerne Blumen. Es war schon fast schwierig am Haus der Senhora vorbei zu gehen ohne danach nicht irgend welche Tulpen, ein kleines Sträusschen oder ein paar riesige rosarote Rosen mit nach Hause zu tragen.
Heute ging ich am Haus der Senhora vorbei und fühlte sogleich einen Schmerz in der Brust. Es tat weh diesen blühenden Garten zu sehnen ohne nicht auch darin die freundlich lachende, elegant gekleidete und mit gekrümmten Rücken gehende Senhora zu sehen. Sicher hätte sie gerne und mit Stolz ihre ersten Frühlingsblumen gezeigt. Mehr noch aber schmerzte der Gedanken, weit weg von meiner Grossmutter zu sein, mindestens solange ihr die Alzheimer-Krankheit noch eine guten Teil des Gedächtnis lässt. Wer weiss, wie lange sie noch einigermassen klar im Kopf ist.
Den Garten ohne die Senhora zu sehen erinnerte mich auch daran, dass ich nicht in der Nähe meines Vaters sein konnte, als er einen schweren Autounfall hatte. Auch nicht, als er später einen Hirnschlag hatte. Auch nicht danach, als er für Tage im Spital lag und fast gestorben wäre. Ich war auch nicht bei meiner Mutter, als diese anfing ins Alter zu kommen. Ich war nicht in der Nähe, als meine Freundin ihr Kind bekam oder das Kind einer anderen Freundin krank wurde, auch nicht, als beste und jahrelange Freunde jemanden brauchten. Ich war auch nicht in der Nähe, als andere irgend etwas feierten. Ich teilte keine Freuden mit ihnen, umarmte niemanden, war nicht einmal mit ihnen ein paar Tage im Jahr zusammen.
Leben fern der Heimat wird wohl für alle etwa so sein und darum möchte wohl auch jeder irgendwann in seinen Träumen wieder zurück nach Hause. Ich kenne keinen Brasilianer, der nicht davon träumt später einmal das halbe Jahr in Brasilien zu leben, vorzugsweise im europäischen Winter und die andere Hälfte des Jahres hier in Europa zu verbringen.
Auch wenn man eine neue Familie gründet, neue Freundschaften schliesst, man lässt ein anderes Leben zurück und damit alle die, die daran teil nahmen. Die Erinnerungen gleichen einem Film, manchmal klar und deutlich, manchmal verschwommen. So wie das Leben in der Gegenwart. Es ist einfacher wegen der Senhora zu weinen, als wegen der Grossmutter, sonst würde es wohl zu schwierig werden.
(*Wir nannten die alte Dame stets: “a Senhora das rosas”. Senhora kann mit Dame übersetzt werden, im Wort “Dame” findet sich aber nicht der Respekt, der im Wort “Senhora” steckt und damit den älteren Menschen gegenüber entgegen gebracht wird.)
Amor de Carnaval não sobe a serra
20 FebDurante muitos anos da infância eu tive três amores: O Moe dos Três Patetas, o Dean Martin e o Elvis Presley. Quando eu ainda amava o Moe, gostava do Carnaval por causa da fantasia. Era sempre a mesma, só mudava o tamanho: uma saia de tiras de plástico e um colar de flores. Havaiana. Ou então as fantasias de papel crepon do banho da Dorotéa em Ilhabela. Dessas eu nunca gostei muito, rasgavam fácil, eram esquisitas mas pelo menos eram fantasias. Eu ía nos desfiles porque, primeiro, era obrigada e segundo, gostava de sair do mar com o cabelo tingido pela tinta que escorria do papel.
Mas então os anos passaram e a fantasia de havaiana não convinha mais ao corpo que dava os primeiros sinais de puberdade já todos de uma vez só. O banho da Dorotéa foi perdendo totalmente a graça e foi posto de lado assim que a carta branca foi dada para não participar mais. O que interessava agora eram as matinês do Clube Caiçara de Ilhabela. A fantasia de havaiana foi substituída pela de odalisca. Aquilo era um sonho: bustiê de tecido metalizado, calça bufante transparente e véu na cara. Tudo amarelo como se fosse ouro, essa era a idéia.
Nos bailes, as crianças grandes e os adolescentes pequenos ficavam horas andando em círculos, jogando confete e serpentina nos outros. A cereja do bolo era o concurso de fantasias que acontecia em cima de um palquinho por onde desfilavam piratas, outras odaliscas, sereias e muitas princesas com um número grudado na roupa enquanto um adulto falava num microfone que só emitia som no talo ou quase inaudível.
No ano da fantasia de odalisca amarela eu conheci o amor. Amorzinho. Ele era lindo. Olhos azuis, cabelos loiros e uma cabeça completamente desproporcional com o corpo. Achei que lembraria o nome dele pelo resto da vida mas hoje não sei nem se ele chamava Cadú ou Cadô ou Esquindôlelê. O nome de verdade, nunca soube, com certeza Carlos Eduardo ou um pomposo Carlos Edoardo.
Cadú ou Cadô passava o dia dando pinta no barco da família ancorado no Yatch Club. Ele ficava o tempo todo com a irmã, uma adolescente linda, chata pra caramba. Foi assim que eu o conheci: a irmã chata era amiga da minha amiga. Enquanto eu pescava no pontão, Cadú ou Cadô passava com os cabelos ao vento na lancha e dava tchauzinho. A irmã só dava uma risadinha. Final de tarde nos encontravámos na sorveteria e conversávamos sobre nada, íamos e voltávamos na mesma rua mil vezes. À noite, eu ficava na cama lembrando do dia.
Aquela fantasia que parecia um sonho foi finalmente usada em público. Por que em casa já era usada todo dia na frente do espelho desde que fora comprada antes das férias em São Paulo. Me arrumei toda. Fiz um pega rapaz grudado na testa igual ao da Julia Matos de Dancin Days mesmo que já um pouco fora de moda. Pela primeira vez passei lápis preto nos olhos e um blush em bastão da minha mãe que me deixou com cara de Carnaval. No salão todo mundo se espremia pulando com “ olha a cabeleira do Zezé, será que ele é? Será que ele é?” e gritando bem alto “BICHA!”. “ O Balancê, balancê, quero dançar com você, entra na roda menina pra ver…. o balancê, balancê”. As serpentinas faziam um emaranhado que era desfeito à tapa pelas crianças.
Eu pulava feito louca mas com cuidado pra não esbarrar muito nos outros e perder a maquiagem de tijolo da cara grudada no véu de odalisca. De repente alguém segurou na minha mão e começou a dar as voltas no salão ao meu lado. Nunca nenhum menino tinha encostado em mim, muito menos segurado na minha mão. Não conseguia nem olhar pro lado direito. Ele usava um tapa olho de pirata e tinha um brinco da mãe na orelha. Fiquei paralisada por uns instantes, o coração bateu na garganta e por pouco não vomitei. O resto do baile todo foi assim. Andamos quilômetros em círculos pelo salão sem a coragem de olhar para o lado só sentindo as nossas mãos se comprimindo. O coração batia tão forte que dava tique nervoso na pálpebra. Tremia o olho, tremiam as pernas, tremia o coração. A sensação era a melhor do mundo.
Suspirei com essa lembrança todas as noites durante quase um ano. Esqueci do Moe, do Dean Martin e do Elvis para sempre. Quando precisava ser feliz, fechava os olhos e pensava naquelas mãos apertando as minhas.
O tempo passou. Quando teve Carnaval de novo, já não achava tanta graça no baile e a fantasia de odalisca não passava mais nos quadris. Ainda vi Cadú ou Cadô algumas vezes mas…. sei lá… comecei a achar que a cabeça dele estava maior ainda. Não olhava mais para ele e nem ele para mim. Virou memória seletiva. E eu nunca mais pisei num baile. Nenhum daria para comparar com aquele.
Während vielen Jahren meiner Kindheit hatte ich drei grosse Lieben: Moe von The Three Stooges, Dean Martin und Elvis Presley. Solange ich Moe liebte, liebte ich wegen der Kostüme auch den Karneval. Ich trug stets das gleiche, es änderte sich nur die Grösse: einen Rock aus Plastikstreifen und einen Blumenkranz um den Hals: eine Hawaiianerin. Oder dann die Krepp-Kostüme für “das Bad der Dorotéa” (Erklärung: ein Anlass für Kinder, wobei alle Kinder über dem Badkleid die gleiche farbige “Papierverkleidung” tragen und am Anlassende dann zusammen ins Meer gehen. Die Kostüme lösen sich auf und das Meer färbt sich in allen Farben) auf der Ilhabela. Diese Verkleidung liebte ich aber nie sonderlich. Sie riss leicht und sah seltsam aus, doch waren es zumindest Verkleidungen. An den Umzügen nahm ich aus zwei Gründen teil: Erstens war es an den Küsten eine Art Pflicht und zweitens mochte ich die nassen farbtriefenden Haare, wenn wir nach dem Bad im Meer wieder an Land gingen.
Die Jahre vergingen und die Verkleidung als Hawaiianerin passte nicht mehr zu einem Körper, der die ersten Signale einer Pubertät zu zeigen begann. Das Bad der Dorotéa verlor seinen Reiz gänzlich und ich entschied nicht mehr daran teil zu nehmen. Nun wurden die Nachmittagsveranstaltungen im Club Caiçara der Ilhabela interessant. Die Verkleidung als Hawaiianerin sollte durch dasjenige einer Odeliske (hier eher arabischen Bauchtänzerin genannt) ersetzt. Das war ein Traum: ein Bustier aus metallisch glänzendem Gewebe, durchsichtige Flatterhosen und einen Seidenschal im Gesicht. Alles in gelb, als wäre alles aus Gold gemacht.
An den Bällen gingen die grösseren und kleineren Kinder stundenlang im Kreis und bewarfen sich gegenseitig mit Konfetti und Luftschlangen. Der süsse Höhepunkt war der Kostümwettbewerb, der auf einer kleinen Bühne stattfand, worüber Piraten, andere Bauchtänzerinnen, Meerjungfrauen und viele Prinzessinnen desfilierten, alle mit einer aufgeklebten Nummer, während am Mikrofon ein Erwachsener sprach, dessen Stimme wegen dem Krach oder der enormen Lautstärke kaum zu verstehen war.
Im Jahr der gelben Odeliske lernte ich die Liebe kennen. Die kleine Liebe. Er war schön. Blaue Augen, blonde Haare, mit einem Kopf, der von den Proportionen so gar nicht zu Körper passen wollte. Ich dachte, ich würde seinen Namen mein Leben lang nie wieder vergessen, doch heute weiss ich nicht einmal mehr, ob er Cadú oder Cadô oder Esquindôlelê hiess. Seinen richtigen Namen erfuhr ich nie, wohl Carlos Eduardo oder pompöser: Carlos Eldorado.
Cadú oder Cadô verbrachte die Tage mit Anstreichen der Familienjacht, die im Yacht-Club vor Anker lag. Er war dauernd zusammen mit seiner Schwester, einer hübschen aber äusserst nervigen Adoleszenten. So habe ich ihn auch kennen gelernt: die impertinente Schwester war die Freundin meiner Freundin. Während ich auf dem Pier sass und fischte, brauste Cadú oder Cadô mit wehendem Haar auf seinen Motorboot vorbei und winkte zum Gruss. Die Schwester schenkte mir höchstens ein Lächeln. Am Ende des Nachmittags trafen wir uns, kauften am gleichen Ort Eis und sprachen über belanglose Sachen. Oft gingen wir die gleiche Strasse tausendmal auf und ab. In der Nacht lag ich dann im Bett und schwelgte in den Erinnerungen des Tages.
Meine Odeliskenverkleidung wagte ich dann schlussendlich auch in der Öffentlichkeit zu tragen. Zuvor zog ich sie nur zuhause an und betrachtete mich im Spiegel. Ich machte mich zurecht: Auf der Stirn eine Locke, wie die von Julia Matos aus Dancin Day, einer damaligen Novela, wenn auch schon etwas aus der Mode gekommen. Zum ersten Mal benutze ich schwarzen Lippenstift für unter die Augen und etwas flüssigen Blush von meiner Mutter, womit ich dann geschminkt war für den Karneval. Auf dem Karnevalsball, der meist prall gefüllt war, sprangen wir auf und ab und sangen und schrien die damaligen brasilianischen Hits oder mindestens die Strophen, die alle kannten. Konfetti und Papierschlagen flogen durch die Luft und Kinderhände zerschlugen schlussendlich das entstandene Wirrwarr der Papierschlangen wieder.
Ich tanzte wie eine Wilde und dennoch achtete ich darauf nicht mit anderen zusammen zu stossen oder mein Make-up am Gesichtsschleier zu verschmieren. Plötzlich fasste dieser Cadú oder Cadô meine Hand und begann fortan an meiner Seite durch den Saal zu tanzen. Nie zuvor war jemand mit mir zusammen gestossen oder hätte gar meine Hand gehalten. Ich wagte es gar nicht erst mich nach rechts umzudrehen. Er trug eine Augenklappe eines Piraten und einen Ohrring seiner Mutter in seinem Ohr. Ich war für einen kleinen Moment wie gelähmt, mein Herz schlug mir bis zum Hals und fast wäre mir schlecht geworden, doch wir blieben zusammen, bis zum Ende des Ball. Wir sind wohl Kilometer Hand in Hand gegangen. Beide wagten es nicht, sich zur Seite zu drehen. Die Hände aber, die spürten wir. Mein Herz schlug derart stark, dass ich vor Nervosität mit den Augenlidern zu zittern begann. Es zitterten die Augen, die Beine, es bebte das Herz. Das schönste Gefühl auf der Welt.
Fast ein Jahr lang seufzte ich bei der Erinnerung an diese Nacht. Moe, Dean Martin und Elvis hatte ich für immer vergessen. Wollte ich glücklich sein, schloss ich die Augen und dachte an diese Hand, die die meinige drückte.
Die Zeit verging. Als es wieder auf die Fasnacht zu ging, konnte ich diese Vorfreude in mir nicht mehr so richtig finden und die Odeliskenverkleidung passte nicht mehr über meine Hüften. Noch immer sah ich Cadú oder Cadô, aber … nun ja … es schien mir, als sei sein Kopf noch grösser geworden. Ich begann mich nicht mehr nach ihm umzudrehen und er sich nicht mehr nach mir. Es wurde zu einer selektiven Erinnerung, nur das Gute blieb. Und bis heute bin ich nie wieder an einen Karnevalsball gegangen. Keiner hätte sich wohl auch mit dem letzt besuchten messen können.
Aleluia! É Carnaval!
17 FebAlguns dias nada presta nessa Suíça. É o calor das lojas que incomoda em contraste com o frio das ruas, é o cabelo e as roupas impregnadas com o cheiro de comida dos restaurantes sem janela, o conservadorismo de certas pessoas, uma mochila gigantesca de um adolescente que não está nem aí se a mochila dele está esmagando alguém no ônibus, é a senhora que esbarra em você com força mas é incapaz de um sorriso ou um pedido de desculpas… entre tantas outras coisas. Nestes dias nada melhor que um choque de realidade. Para acordar e lembrar. Por que quem mora em país rico se preocupa mesmo é com besteira e esquece da realidade.
Como hoje, suando debaixo do casaco dentro do ônibus. Cabelo fedendo do restaurante, mau humor e entra a mulher no ônibus, sem pausa na conversa, orelha grudada no celular e voz aguda:
“ Quando você conseguir tirar Satanás de você, você vai ver como tudo vai mudar. Não que eu queirar te influenciar, cê entende, né? Mas tua vida vai mudar quando tirar Satanás. Você precisa sentir esse poder dentro de você, receber essa luz em você. Não é que eu queira te influenciar, de jeito nenhum. Quando você tirar Satanás, você vai ser recebida em misericórdia, tua vida se abre, você nem imagina a mudança que isso vai provocar em você. Não quero te influenciar não, só estou falando para tentar ajudar. Então eu te peço, deixe Satanás sair de você!”
Claro, o discurso todo foi em português brasileiro. Até esqueci meus problemas.
Halleluja! Es ist Fasnacht!
An einigen Tagen passt mir gar nichts in dieser Schweiz. Sei es die Hitze in den Läden, die im Kontrast steht zu der klirrenden Kälte draussen oder seien es die vom Geruch des Essens imprägnierten Haare und Kleider wegen den Restaurants, die nie auch nur ein einziges Fenster öffnen. Möge es vielleicht auch die konservative Haltung gewisser Leute sein, oder der riesige Rucksack eines Jugendlichen, der einem fast erdrückt im Bus, wobei dies der Träger nicht einmal bemerkt oder es ihm egal zu sein scheint. Oder die ältere Frau, die plötzlich im selben Bus gegen dich stösst, aber unfähig ist, dies durch ein Lächeln zu kompensieren, oder sich zu entschuldigen… dies sind nur einige von vielen möglichen Gründen. An solchen Tagen gibt es nichts besseres, als den schockartigen Fall zurück in die Realität. Dies, um aufzuwachen, um sich zu erinnern. Wer in ein reiches Land kommt, beginnt automatisch, sich über dumme Kleinigkeiten zu ärgern und verliert dabei leicht den Bezug zur Realität.
Genauso ein Tag war heute. Eh schon schlecht gelaunt und mit nach Restaurantluft stinkenden Haaren sass ich in meinem warmen Wintermantel im Bus und fing langsam an zu schwitzen. Da stieg eine Frau in den Bus, das Handy am Ohr und laut schwatzend:
“Wenn es dir gelingt, den Teufel in dir auszutreiben, dann wirst du sehen, wie sich alles ändert. Ich will dich nicht beeinflussen, das weisst du, oder? Aber dein Leben wird ein anderes sein, wenn du Satan ausgetrieben hast. Du musst die Kraft in dir spüren, dieses Licht empfangen. Ich will dich nicht beeinflussen, überhaupt nicht. Wenn du den Teufel ausgetrieben hast, wirst du Gnade erfahren, dein Leben wird sich öffnen, du kannst dir nicht vorstellen, welche Veränderung dies in dir bewirken wird. Ich will dich nicht beeinflussen, ich sage dies nur, um dir zu helfen. Nun gut, ich bitte dich, lass den Teufen weichen von dir!”
Klar, diese Diskussion erfolgte in brasilianischem Portugiesisch. Dabei vergass ich dann meine Probleme.