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Tokyo – Japan

2 Aug

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Kyoto – Japan

2 Aug

 

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Purity

12 Oct

São as ações do passado que controem o presente que logo vira também passado e delimita o futuro. A infância e a juventude são fundamentais na construção do caráter. Mas é a culpa e consequentemente o arrependimento que mudam o rumo da existência. Mais uma vez é sobre essa base que Jonathan Franzen se debruça no novo romance Purity. A narrativa é longa e como em Liberdade ou em As Correções vai e volta no passado na tentativa de explicar o presente.
Em Purity, o recurso constrói duas grandes narrativas paralelas que vão e voltam no tempo não só pra mostrar onde se dá o encontro dos personagens mas para explicar o presente pelo passado. Apesar de Purity, ou Pip, dar título ao romance, os dois personagens principais são os antagonistas, Andreas Wolf e Tom Aberrant. O alemão Andreas, nascido no leste, filho de figuras importantes do governo comunista, é um carismático whistleblower com uma obsessão por garotas novinhas. Absolutamente inspirado em Julian Assange, Andreas é tão caricatura quanto realidade. É sedutor e hipócrita. Critica a opressão do comunismo mas usa a influência dos pais poderosos para se safar. Quando o muro cai participa de uma espécie de “comissão da verdade” que analisa os arquivos da Stasi, bradando contra a opressão do sistema em entrevistas, mas o que lhe importa realmente é ter a certeza de que tudo o que se refere a ele já não existe mais. Quando a internet se populariza passa a codificar e logo a espionar. Em pouco tempo é rival de Assange no posto de herói da verdade comandando um séquito de hackers. Expõe os segredos alheios mas guarda todos os seus. Como diz a personagem, não por acaso jornalista investigativa, que o desmistifica: “guardar segredos é civilizatório”. Mas não para quem finge ser herói. Franzen é implacável com figuras como Assange e Snowden, reduzidos a espiões hipócritas que não passam de moleques velhos – o alvo dele é Assange – mimados e neuróticos.
O outro protagonista é Tom Aberrant, jornalista americano filho de mãe alemã do leste(e mais tarde o econtro dos personagens se dá por esse motivo) e pai americano. Idealista mas nem tanto. Tem a vida mudada quando começa um romance com Annabel, jovem artista incapaz de criar algo consistente que o atrai tanto pela beleza e esquisitice (eles se conhecem quando ela ela faz um manifesto feminista onde se enrola, nua, em papel) quanto por ser filha de um bilionário. A moça culpa o pai pela morte da mãe e se recusa a viver as custas do dinheiro “sujo” mas não se desfaz dos vestidos caros nem das garrafas de vinho que custam um salário e é isso que no início mais atrai o tão correto Tom. Por fim se apaixonam de verdade e vivem um amor doentio, Annabel só funciona na lua cheia.
É em Berlin que os dois protagonistas se esbarram e criam o elo, a partir de um crime, que os unirá no presente e no futuro. Diferente dos outros romances de Franzen, Purity vai além da construção emocional dos personagens com base nas relações familiares. O romance tem uma narrativa de livro policial, o cerne é um crime e a culpa que dele decorre, e fôlego para quase 600 páginas mas, no fim, o que importa – e aqui ele volta a ser o Franzen de sempre – é dissecar e compreender como o caráter se molda pelas relações familiares. Tanto o “bonzinho” Tom quanto o “malzinho” Andreas são puras construções das neuroses familiares.

Castelo Habsburg

6 Apr

Um dos mais antigos castelos da Europa é de 1020, fica no Aargau, Suíça. O luxo ainda era miragem inimaginável na Europa central. O castelo é duro. Pedra sobre pedra, janelas mínimas, um frio intenso entre escadarias vertiginosas e uma vista maravilhosa para o campo que percorre a planície. Sobre os Habsburg, da Wikipedia: “Por ter sido elevada a realeza em 1273, é denominada a “família imperial” do Sacro Império Romano Germânico (962-1806); e por ter sido a soberana da Áustria desde 1278 até 1918, tendo inclusive sido a única governante do Império Áustro-Húngaro (1867-1918), é denominada como a “família imperial austríaca.”

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Kinder

22 Nov

Vida na Suíça:
Diálogo entre duas crianças de 10 anos.
– Você não liga que o X te chame de macaco?
– Eu não. Ele é meu melhor amigo.
– Mas você sabe que é muita falta de respeito, né?
– É. Eu sei.
– Ele te chama de macaco pra deixar claro que ele é quem manda nessa amizade, pra te deixar pra baixo.
– Pode ser. Eu não ligo.
– Próxima vez que ele te chamar de macaco, lembra de mim. Pensa que eu te acho bem melhor do que ele. Daí você ri por dentro.
-:)

Seu pai é traficante, o meu é detetive

7 Nov

Uma semana antes a polícia havia prendido dez integrantes da máfia calabresa. No jornal das oito, um vídeo feito com uma microcâmera escondida, mostrava uma reunião da cúpula da mafia italiana na Suíça. Gente poderosa cheia de mortes sobre os ombros. A reunião era na pizzaria de um deles. Nem todos foram presos. Todos tinham (tem) profissões que suscitavam nenhuma suspeita. Um dono de pizzaria, um operário de fábrica, um dirigente de um centro de acolhimento a imigrantes.

” – Para um pouquinho mais trás, assim fica muito na cara. Olha aí. Tá vendo?
– Eu não acho, não. Não tem nada demais. A casa é grande mas normal.
No banco de trás a criança, olhos grudados no iPad clama.
– Que coisa chata. Vai demorar?
– Não, é só um minutinho. Então, quem você conhece que mora numa mansão dessas?
– O R. W. mora.
– Mas o R. W. é CEO de uma multinacional, imagina o salário dele! E outra: eles têm babá e empregada. Quem aqui tem babá e empregada?
– Todas as brasileiras ricas. E as russas.
– Mas ele é da Italia! Da italia!
– Raciocina comigo: o cara é cafonão, a mulher vem do país mais pobre do leste europeu, ela é mega perua, eles moram numa mansão e têm empregada e babá. É normal?
– Olha, o comércio pode dar bastante dinheiro.
– Meu! Que comércio? O cara vende alisante de cabelo brasileiro e ficou rico desse jeito? Quem na Suíça usa alisante de cabelo fora uma meia dúzia de brasileiras e caribenhas?
– Sei lá. Deve ter salão que compra.
– Ok. Mas aí a ter uma mansão, babá e empregada…
– Isso é preconceito!
– Não é preconceito, só estou juntando as peças.
– Saaaaaaaaco. Vamos embora. Vai demorar?
– Peraí, querida.
– O que a gente tá fazendo aqui perto da casa da minha amiga?
– Nada. Estamos vendo como a casa é bonita.
– Então… pensa. creme alisante do Brasil, italiano da Calábria, conexão na Moldávia, mansão… Entendeu?
– Não!
– Já pensou que nos potes de alisante pode ter pasta de cocaína?
-Que viagem…
– É óbvio, é claro! Ele é traficante! Ele é da máfia calabresa! Ele traz a pasta nos potes do Brasil, a mulher é a conexão com a mafia do leste europeu, ele distribui pela Europa.
– O que é traficante? Ai, que saco… vamos embora?
– Traficante é uma profissão de comércio, de vender umas coisas.
– E o pai da minha amiga faz isso? Cool!
– Você não vai falar nada pra ela, né?
– Por que? Não pode falar?
– Melhor não.
– Vou falar! Vou falar! Se a gente não for embora agora, amanhã eu vou falar que meus pais ficaram escondidos olhando a casa dela e que minha mãe falou que o pai dela é trafi… traficoin… como é mesmo a palavra dessa profissão?
– Comerciante.
-Você falou outra coisa.
– Não, xuxu, eu disse comerciante mesmo. Vamos embora, outro dia a gente conversa sobre isso.”
Três dias depois o homem toca a campainha da minha casa com um saco enorme de mexericas. Eu abro, ele beija o dorso da minha mão. Diz que trouxe especialmente pra mim as mexericas da Calabria, dá uma piscadinha de olho e vai embora.
Nunca mais nos vimos.

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De volta

6 Nov

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Romance, romance, romance

6 Nov

Todos os meus livros (romances) estão na Amazon ou na Apple store, livraria Cultura, Saraiva e Google Plays

http://www.amazon.com.br/s?_encoding=UTF8&field-author=Claudia%20Grechi%20Steiner&search-alias=digital-text

 

Maludula e Abdullah

6 Nov

Maludula quase não se vê. Primeiro porque pouco sai à rua. Segundo porque quando sai está coberta de pano até o chão. Sobra o rostinho redondo emoldurado por mais uma camada de tecido preto. Abdulahh está sempre na rua. Não fala com ninguém. Primeiro porque não fala alemão. Segundo porque não quer, anda rápido, olha pra lugar nenhum e não diz bom dia pra ninguém. Moram no predinho cinza mais feioso do bairro, o de janelas pequenas, No verão enchem a escadinha lateral de gerânios, no inverno ninguém os vê. Vieram do Afganistão, ninguém sabe como o que faz parte do bairro acreditar que são terroristas e outra parte, milionários fugitivos. São refugiados políticos e como refugiados têm suas histórias bem guardadas.
O grupo se encontra no território da igreja católica que cede seu espaço para organizações de meninas (e meninos) mais velhas realizarem atividades com as mais novas. Desde brincadeiras, jantares (elas aprendem a cozinhar, graças a deus!), teatro, shows de música, artesanato até a introdução de atividades de cidadania (recolher papel, lixo, reciclar vidros, pets etc).
“Seria bom pra sua filha participar pra aprender a Língua. Essas atividades socializam e funcionam como aulas extras de alemão”
” She don’t go. She don’t go. Muslim, muslim, muslim”
“Mas não tem nada a ver com religião. É só que a igreja cede a infra deles pras garotas. Tem meninas de todos os lugares e de todas as religiões, inclusive as sem religião.”
“Ah… this is not good, not good”.
Ele cedeu e a menina acabou sendo liberada. Dois anos depois,quando todas fizeram o teste para poder pilotar bicicleta no trânsito, ela apareceu de cabeça baixa. “Não posso fazer o teste, não tenho bicicleta”. “Não tem problema”. Ela foi embora de cabeça baixa,
Uma semana depois apareceu toda feliz e orgulhosa com uma bicicleta semi nova mas tão valorizada como uma novíssima e cara costuma ser . As meninas fizeram uma vaquinha ( e a igreja completou… mas isso a gente não disse pro pai).

Gian Luca

6 Nov

“A gente está juntando dinheiro pra uma viagem da escola. Você pode ajudar?” Atrás da mesinha repleta de bolos caseiros, muitos deles desmanchando sem forma, outros esfarelando sob a fórmula errada, está o menino que nunca mais eu tinha visto.
“Gian Luca! Quanto custa o pedaço de bolo?”.
“Quanto você quiser pagar”.
“Você tá bem?”.
Com um sorriso ele respondeu: “tô”.
Anos atrás…
“esse menino é tão bonito que podia ser modelo, sério… com esse rosto ele ia ganhar uma grana…”.
“Você não sabe?”
“Não sabe o quê?”.
“Ele talvez vá parar de estudar”
“Mesmo? por que?”
“Ele não está bem, tem tido crises de pânico. Você não sabe, né? Está começando a se reaproximar do pai. O pai tá na prisão”
“Poxa… não sabia. Que difícil. Ainda bem que ele tem a mãe, ela é legal com ele?”
“O pai tá na prisão porque matou a mãe durante uma briga. Eram os dois drogados. Ele está morando com os avós, italianos que chegaram na Suíça pra ajudar o neto. Eles não falam alemão, ele não entende direito italiano. Talvez ele vá pra Italia com eles, talvez ele fique aqui pra continuar estudando”
Ele ficou ❤