Tag Archives: imigranten

Der? Die? Das?

6 Sep

Como num joguinho de criança, às vezes a gente avança duas casas e às vezes a gente tem que voltar ao início. Eu moro na Suíça há oito anos. Poderia falar alemão super bem mas não falo. Nos primeiros anos aqui quase não pude estudar. Eu tinha um bebê, que depois virou uma criança pequena, para cuidar. Minha filha é alérgica e tem asma, nada demais, igual a milhões de crianças no mundo todo. Mas isso na prática, significa, tosse, muita tosse, vômitos, falta de ar, urticárias pela pele, nariz sempre pingando, noite e noites sem dormir, idas frequentes à emergência de hospitais.

Tirando um curto período de uns três meses em que pude contar com a ajuda da avó paterna e mais uns outros quatro meses que arrumei uma babysitter brasileira, sempre cuidamos sozinhos da nossa filha. Não por opção mas sim pela falta de opção. Ser estrangeiro com filhos pequenos na Europa pode ser um perrengue total. A avó e a babysitter ajudaram durante uns sete meses, apenas enquanto eu fazia um curso básico de alemão; se não, não dava nem para comprar o antialérgico na farmacinha da esquina.

Sempre exausta por não dormir direito à noite, acabei largando o alemão. Mudei de cidade, esperei minha filha crescer um pouco e entrei de novo num curso. Fiz praticamente inteiro, uns três anos estudando à noite duas vezes por semana. Nesses cursos noturnos, conheci todo tipo de imigrante, até o não imigrante: mulheres do mundo todo cujos maridos vieram para a Suíça por causa do emprego ($$$). Esses maridos, invariavelmente físicos ou engenheiros,  geralmente trabalhavam em empresas gigantes e ganhavam muitíssimo bem. Não falavam uma palavra de alemão porque nessas multinacionais a língua oficial é o inglês. Então as mulheres estudavam para poder resolver as coisas práticas da vida no estrangeiro. Todas faziam questão de falar perfeitamente o alemão para não serem confundidas com os imigrantes. Ou seja, queriam mostrar com a língua o status de “rica” porque quem fala mal são os “pobres”.

Não deixa de ser verdade. Diferente das bonitonas, o imigrante trabalha e trabalha muito. Se ele veio para cá, não foi por causa de um salário milionário numa multinacional mas sim porque não tinha um salário. Ele também veio pensando que aqui os filhos podem ter uma chance muito melhor do que a que ele (não) teve em seus país de origem onde quase todo mundo está ferrado. Eles não têm culpa de não falar direito nem a própria língua; por eles, eles falariam bem, trabalhariam por um bom salário, comeriam bem, viveriam bem. Não é o que todo mundo quer?

Muitos estrangeiros que moram no Brasil falam super mal português mas poucas pessoas se preocupam com isso. O chef Claude Troisgois que apresenta um programa de gastronomia na TV, comete erros enormes de português. Quem se importa? Ninguém porque faz parte dele esse sotaque com todos os erros, faz parte dele ser um francês que trabalha no Brasil. Ele não precisa fingir que é um brasileiro para morar e trabalhar no Brasil. O legal dos estrangeiros no Brasil é que eles misturam a cultura de suas origens, inclusive a língua, com o que eles gostam da cultura brasileira. Ou como diria o próprio Troisgrois, fazem uma mélange danada.

Mas aqui é diferente, falar perfeitamente a língua é um símbolo de status. É a distinção entre o rico  e o pobre, o imigrante e o não imigrante. O tal do “integrado” e o “não integrado” que até agora não entendi direito o que quer dizer. Porque integração na Europa, para muitos, significa você deixar de ser como é e quem sempre foi para se transformar numa cópia de quem você não é.

Na Alemanha, um dos temas preferidos de piadas é o sotaque dos imigrantes turcos. Aqui, as piadas são com o sotaque e o jeito de falar dos imigrantes da ex-Ioguslávia.  Vamos comparar: como no Brasil a escravidão e a imigração européia já eram, quem faz o trabalho pesado nas capitais do sudeste é tradicionalmente o nordestino pobre que estudou muito pouco porque tinha que se virar desde cedo. Imagine se o sotaque do nordestino fosse sempre o centro de piadas… Não teria graça nenhuma,  seria idiota na verdade.

Agora, dois anos depois de nunca mais pegar num livro em alemão, resolvi voltar para um curso. Andei duas casas pra trás no joguinho. Não porque eu quero falar perfeito o alemão e ser considerada uma “mulher de (alta) classe”. Apesar de ficar irritada quando me tratam feito criança por não falar a língua perfeitamente, estou me lixando se acham que sou burra, pobre, puta, homem, mulher, travesti, cachorro ou sei lá o quê.

Eu quero mesmo é entender todos os filmes e ler todos os livros de autores alemães que eu gosto mas principalmente, entender tudinho das piadas da Anke Engelke. Taí uma comediante que consegue fazer piada de estrangeiro/ imigrante com muita graça e leveza; e quase sempre, tirando sarro do preconceito dos próprios alemães.

Orra meu, sou paulistana!

5 Jun

Segundo reportagem da Folha.com, o típico sotaque paulistano pode virar o primeiro “bem imaterial” protegido pela cidade. Sim! Não é só a fondue suíça que almeja a eternidade. Toda vez que um brasileiro, que não seja paulistano, imita um paulistano ele fala “italianado” como se costuma (va) falar na Mooca.

O bairro da Mooca é um dos mais antigos de SP e onde havia uma das maiores concentrações de índios de toda São Paulo. Alguns dizem que Mooca vem de “Moo=faz” e “Oca= casa” em tupi. Os índios se concentravam nas margens do rio Tamanduateí.

A Mooca foi no começo do século XX um dos maiores centros industriais da cidade. Muitos dos imigrantes (principalmente italianos mas também  húngaros, espanhóis, portugueses e lituanos) que alí se instalaram vieram para trabalhar nas fábricas do bairro ou eram remanescentes das fazendas de café do estado. Em 1901, 90% dos operários de São Paulo eram italianos. Muito do sotaque considerado típico de SP vem do sotaque dos moradores italianos da Mooca.

No ano de 1924,  a Mooca, e os também bairros operários do Brás e Belém foram parcialmente destruídos ao serem bombardeados por aviões do Governo Federal durante a Revolução de 24. Articulada por tenentes e capitães das Forças Armadas, a Revolução  pretendia controlar a cidade de São Paulo (e depois se expandir pelo Brasil)  em oposição ao Governo Federal. Em represália, aviões militares do Governo jogaram bombas, como em uma guerra, sobre os bairros. Mil pessoas morreram e mais de quatro mil ficaram feridas.

“orra meu”, ich bin Paulistana

 Laut einer Reportage der folha.com könnte der typische Akzent der Paulistaner (Einwohner der Stadt São Paulo) der erste, durch die Stadt geschützte “immaterielle Besitz der Paulistanos” werden. Wirklich! Nicht nur das Schweizer Fondue möchte unsterblich werden. Jedes Mal, wenn ein Brasilianer einen Paulistano immitiert, so versucht er dies, indem er “italienisiert”, also versucht zu reden, wie die Leute in der Mooca reden. Das Quartier Mooca ist eines der ältesten von SP. Dort hatte es einst eine der grössten Konzentrationen an Indianern im Staat São Paulo. Einige sagen, Mooca komme aus der Indianersprache Tupi, zusammengesetzt aus: “Moo=mache” und “Oca=Haus”. Die Indianer waren hauptsächlich an den Ufern des Flusses Tamanduatei zu finden.

Anfangs des XX Jahrhunderts war die Mooca ein Industriezentrum der Stadt. Viele Immigranten (hauptsächlich Italiener, aber auch Ungarn, Spanier, Portugiesen und Litauer) kamen in dieses Quartier, um in den Fabriken zu arbeiten und liessen sich so in der Mooca nieder. Nicht nur Immigranten wurden zu Fabrikarbeitern, auch von den Kaffeeplantagen zog es Arbeiter in diese Region. Im Jahr 1901 waren 90% der Fabrikarbeiter von SP Italiener. Viel von dem, was für den lokalen Akzent als so typisch gilt, kommt aus dieser Zeit und aus dem Akzent der Italiener aus der Mooca.

Während der “Revolution 24” im Jahr 1924 wurden das Fabrikgelände der Mooca, wie auch diejenigen in den Quartieren Bras und Belem teilweise durch staatliche Fliegerbombardierung zerstört. Geführt durch Militäroffiziere versuchte die Revolutionellen zuerst die Stadt São Paulo zu kontrollieren und sich dann über ganz Brasilien auszubreiten. Zur Vergeltung liessen die staatlichen Führer Bomben abwerfen, es herrschte Kriegszustand. Um die Tausend Personen kamen ums Leben und mehr als 4000 wurden verletzt.

Veja e ouça mais do “nosso” sotaque paulistano no video da Folha.com:

Sehe und höre unseren Paulistano-Akzent im Video der Folha.com:

Mais sobre a Mooca no video de alunos da faculdade Metodista de SP:

Mehr zur Mooca im Studenten-Video der Metodisten-Fakultät von SP:

Visite os sites:

Besuche auch folgende Seiten:

 Portal da Mooca

Mooca Online

Para saber mais ainda sobre a Mooca leia o livro Crônicas da Mooca de Mino Carta e Helio Campos Mello publicado pela editora Boitempo.

Torre de Babel

12 Feb

“Aruj, Aruj, Aruj!!!”, grita a mulher pelo corredor do shopping enquanto corre atrás da filha. “Hussein, Hussein!”, diz outra mulher com cara de brava para o filho que faz manha. O shopping de Spreitenbach parece ter de tudo menos suíços. Nos dias das “férias de esporte”, em fevereiro, enquanto a maioria dos suíços vai esquiar, o shopping vira mais ainda a Torre de Babel. Por falta de dinheiro e costume, os estrangeiros que aqui vivem não são loucos por esquiar como os suíços e gastam o tempo livre nos shoppings. Vale dizer também que a cidade de Spreitenbach, onde fica o maior shopping do país  (20 minutos de ônibus de Wettingen) tem uma das maiores concentrações por metro quadrado de estrangeiros na Europa. É mais ou menos assim: se na Suíça 25% da população é de estrangeiros, em Spreitenbach esse número chega à quase 50% mas juro… parece que deve ter uns 80% porque por lá só se escuta suíço-alemão quando os bandos de adolescentes abrem a boca e precisam de uma língua em comum para se comunicarem.

Eu, particularmente, gosto dessa mistura, acho interessante, enriquecedora e me lembra São Paulo, um pouco uma bagunça mas divertida e  cheia de nuances. Também entendo, em termos, os muitos suíços que se preocupam com o excesso de estrangeiros e as mudanças de hábitos. Muitos estrangeiros realmente não querem se integrar. Chegam aqui aos poucos e logo, logo já têm pais, irmãos, sogros, cunhados e toda uma galera. Acabam vivendo entre eles, não falam a língua e muitas vezes não respeitam os costumes locais. Mas do outro lado, muitos suíços acreditam que os estrangeiros só são suficientemente integrados se agirem e pensarem igualzinho à um suíço! Parece surreal imaginar que um indiano ou um turco vá de repente começar a  comer rösti ao invés de samosa e cebola! Manter e espalhar os hábitos do país de origem também contribui para enriquecer a cultura do novo anfitrião. São Paulo seria mil vezes menos legal não fosse a influência das culturas japonesa e italiana em muitos hábitos paulistanos. O que não dá é pra descambar na cultura do ódio. Tem que haver educação e respeito de ambos os lados.

E voltando ao ponto de partida, o shopping…. incrível como brasileiro se sente em casa em um! Tirando os ex-Ioguslávia o que mais tem por lá são brasileiras. No Brasil, os shoppings fazem parte da cultura local pois além de lojas, todos possuem salas de cinema e teatros e muitos restaurantes fast-food. Eles também sempre foram sinônimo de segurança (já não são mais) e ar condicionado! Em várias cidades brasileiras as pessoas se enfiam nos shoppings nos dias mais quentes de verão porque lá é muito mais fresquinho que na casa delas. 

Eu nunca vivia enfurnada em shopping quando morava em SP, ía no máximo na hora do almoço da “firma” pela variedade de restaurantes bons e baratos. Mas aqui…porque é frio, porque tem pouco lazer em lugares fechados e porque tem muitas lojas boas baratas…. bom, aqui é outra história…

Turm zu Babel

“Aruj, Aruj, Aruj!!!”, schreit eine Frau durch den Korridor des Shopping Centers, während sie der Tochter nachrennt. “Hussein, Hussein!” sagt eine andere Frau mit finsterem Gesicht zum quengelnden Sohn. Der Shopping Spreitenbach scheint alles zu haben, ausser Schweizern. Während die Mehrheit der Schweizer in den Sportferien im Februar Ski fährt, verwandelt sich das Shopping Spreitenbach noch mehr zu einem “Turm zu Babel”. Aus Geldmangel und Gewohnheit sind die Ausländer, die hier leben, nicht so besessen vom Skifahren wie die Schweizer und verbringen ihre Freizeit in den Shoppings. Ebenfalls erwähnenswert ist, dass die Stadt Spreitenbach, dort wo sich das grösste Shopping des Landes befindet (20 Minuten mit dem Bus von Wettingen entfernt), eine der höchsten Ausländerkonzentration pro Quadratmeter Europas besitzt. Es ist mehr oder weniger so: während in der Schweiz 25% der Bevölkerung Ausländer sind, so erreicht dieser Anteil in Spreitenbach fast 50%, aber ich schwöre…, es macht den Anschein, als ob es 80% wären, weil man dort nur Schweizerdeutsch hört, wenn Teenager einer Gruppe den Mund öffnen und eine gemeinsame Sprache brauchen, um sich unterhalten zu können.

Ich persönlich mag diese Mischung, finde sie interessant, bereichernd und das Durcheinander erinnert mich etwas an São Paulo, nur ist es dort spassiger und nuancierter. Diesbezüglich verstehe ich auch die vielen Schweizer, die sich um die Übervölkerung durch Ausländer sorgen, sowie den damit verbundenen Wandel der Gewohnheiten. Viele Ausländer möchten sich tatsächlich nicht integrieren. Zuerst kommen nur ein paar, doch schon bald sind Eltern, Geschwister, Schwiegereltern und Angeheiratete hier, bis hin zur ganzen Clique. Sie beginnen unter sich zu leben, sprechen nicht die hiesige Sprache und respektieren oft auch die ortsüblichen Gewohnheiten nicht. Aber auf der anderen Seite glauben viele Schweizer, dass die Ausländer nur dann genügend integriert sind, wenn sie sich gleich verhalten und auch gleich denken wie ein Schweizer. Es erscheint einem surreal, wenn man sich vorstellt, dass ein Inder oder ein Türke plötzlich beginnt Rösti zu essen anstelle von Samosa und Zwiebeln. Gewohnheiten des Ursprungslandes zu erhalten und zu verbreiten tragen auch dazu bei, die Kultur des neuen Gastlandes zu bereichern. São Paulo wäre tausendmal weniger “toll” , wäre nicht der Einfluss der japanischen und italienischen Kultur auf viele Gewohnheiten der Paulistaner. Was nicht geht, ist der Kultur des Hasses zu verfallen. Es gilt, gute Erziehung und Respekt auf beiden Seiten zu zeigen.

Zurück zum Anfang, dem Shopping… unglaublich wie sich Brasilianer da zu Hause fühlen! Abgesehen von den Ex-Jugoslawen hat es dort am meisten Brasilianerinnen. In Brasilien sind die Shoppings Teil der örtlichen Kultur, denn neben Läden haben alle auch Kinosäle und Theater sowie viele Fast-Food-Restaurants. Ebenso war ein Shopping früher ein Synonym für Sicherheit (das ist es heute schon nicht mehr) und Klimaanlage! In vielen brasilianischen Städten gehen die Menschen an den heissesten Tagen des Sommers in die Shoppings, weil es dort etwas kühler ist als bei ihnen zu Hause.

Ich verschanzte mich nie in den Shoppings als ich noch in São Paulo lebte, ging höchstens um die Essenszeit (“der Firma”) am Mittag zur Abwechslung wegen der Vielfalt an guten und billigen Restaurants dorthin. Aber hier… weil es kalt ist, weil es wenig Freizeitmöglichkeiten in geschlossenen Orten gibt und weil es viele billige und gute Läden gibt… gut, hier ist es eine andere Geschichte…